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A importância do presencial para gerar pertencimento nos eventos corporativos

Escrito por
Rafael Nascimento de Carvalho | Content Manager

Embora os eventos online e híbridos continuem sendo um recurso bastante útil para as empresas, os encontros presenciais seguem essenciais para nutrir a cultura corporativa, formar comunidades e consolidar relações entre pessoas. E é sobre isso que vamos falar aqui. Mas antes, vale explicar a escolha desse assunto.

Como profissional formado no mundo do branding, tenho um apego especial por marcas que vivem e comunicam bem um propósito. A Patagonia, para mim, é uma das marcas que melhor faz isso.

Fundada em 1973 pelo alpinista e ambientalista americano Yvon Chouinard – que ficou conhecido por “odiar ser bilionário” e ter doado toda sua fortuna – a marca tem em sua essência um forte compromisso com questões ambientais e uma postura política bastante progressista. Mas formular esses princípios e integrá-los na operação do negócio, nas decisões mais estratégicas da empresa, não foi um desafio simples.

Nos anos 1990, quando a Patagonia já se tornava uma marca-desejo reconhecida globalmente e com faturamento significativo, o fundador se viu em uma encruzilhada: a demanda pela marca crescia exponencialmente, em um ritmo pouco compatível com a filosofia sustentável da empresa. Esse dilema ele narra em detalhes no livro “Let My People Go Surfing“, uma das leituras sobre cultura empresarial mais inspiradoras que eu já encontrei:

Percebi que nossa crise era um microcosmo do que estava acontecendo em todo o mundo. O relatório do Worldwatch Institute daquele ano, 1991, afirmava:

“Com uma produção anual de 20 trilhões de dólares, a economia global agora produz em 17 dias o que levava um ano inteiro para gerar em 1900. Já, a atividade econômica ultrapassou vários limites locais, regionais e globais, resultando na expansão dos desertos, acidificação de lagos e florestas, e no acúmulo de gases de efeito estufa. Se o crescimento continuar nos moldes das últimas décadas, é apenas uma questão de tempo antes que os sistemas globais entrem em colapso sob a pressão.”

Nossa própria empresa havia excedido seus recursos e limitações; nos tornamos dependentes, como a economia mundial, de um crescimento que não podíamos sustentar. Mas não podíamos ignorar o problema e esperar que ele desaparecesse. Fomos forçados a repensar nossas prioridades e instituir novas práticas. Tivemos que começar a quebrar as regras.

Mas qual a melhor forma de repensar as prioridades, instituir novas práticas e quebrar as regras? Não existia uma fórmula pronta, e encontrar esse caminho demandava uma série de reflexões fundamentais sobre a própria razão de ser da empresa.

Para proporcionar essas reflexões, Yvon decidiu levar seus principais executivos para um “walkabout” na Patagônia argentina, uma região com importância simbólica para a marca, cujo nome é inspirado em suas paisagens selvagens e intactas.

Walkabout” é uma tradição aborígene australiana, onde indivíduos fazem uma jornada para se reconectar com a natureza e com eles mesmos. Aqui, a ideia era usar essa oportunidade para repensar o rumo da empresa, avaliar seus valores e definir estratégias futuras.

Dessa viagem surgiu não só a formalização dos valores da empresa, mas também uma série de decisões sobre a cultura que guiaria as decisões estratégicas da empresa dali em diante. Para quem se interessa pelo assunto, vale se aprofundar nos princípios da Patagonia, até porque desde então a marca segue sendo amplamente reconhecida pela filosofia que se consolidou e foi reforçada durante o “walkabout” de 1991.

Walkabout do time Patagonia realizado em 1991 no Sul da Argentina

Para esse texto, o ponto importante é que é difícil imaginar que as reflexões teriam ocorrido da mesma forma se fossem feitas em uma chamada do Zoom. Ou mesmo em uma sala de reuniões do escritório da empresa. E existem razões já bastante estudadas sobre o impacto do presencial e da mudança de contexto nesse tipo de encontro.

Presença Social

Esses momentos de olho-no-olho, de contato presencial, são cruciais para o desenvolvimento de laços sociais mais profundos entre os membros da equipe. A Teoria da Presença Social, desenvolvida por John Short, Ederyn Williams e Bruce Christie na década de 1970, oferece insights valiosos sobre a importância das interações humanas na construção de comunidades e no fortalecimento das relações interpessoais.

Ela sugere que a comunicação é mais eficaz quando as pessoas percebem a presença dos outros de maneira direta e tangível. Essa “presença social” é definida em graus de presença perceptível dos diferentes tipos de comunicação: é menor em um email do que em uma chamada de zoom com a câmera aberta, por exemplo. Em outras palavras, quanto mais uma pessoa sente que está “presente” e engajada com outra pessoa durante a comunicação, maior é a qualidade dessa troca. E o presencial, claro, segue sendo o padrão ouro.

A presença física aumenta a percepção de proximidade e intimidade. Quando colegas de trabalho têm a oportunidade de se encontrar pessoalmente, eles constroem confiança e empatia, elementos essenciais para a colaboração e a resolução de desafios complexos.

Isso não significa que o trabalho presencial é mais efetivo que o trabalho híbrido ou remoto – a reflexão aqui é sobre o melhor formato para encontros pontuais com objetivos específicos e um propósito claro.

Leia também: Como ganhar clareza de propósito no design de experiências e eventos corporativos

Em um mundo onde o trabalho híbrido se tornou a regra e Zoom, Teams e Google Meet fazem parte da nossa rotina diária, os touchpoints presenciais que proporcionam essa conexão física ganham ainda mais valor.

Como relata o CEO da Slido no blog da empresa, que trabalha em modelo híbrido e fully remote, para eles os encontros presenciais regulares também ajudaram a tornar a gestão mais acessível,  aumentando a moral dos funcionários. Essas interações acabam sendo particularmente benéficas para novos funcionários, que podem achar difícil embarcar no clima da empresa e receber orientação em um ambiente totalmente remoto. Na Slido, eles priorizam eventos anuais para manter a cultura da empresa e garantir que os funcionários se sintam parte de um contexto mais amplo.

Impacto na Criatividade

Teresa Amabile, uma psicóloga e professora da Harvard Business School, dedica sua carreira a estudar mais profundamente a criatividade – e os contextos que fazem o pensamento criativo florescer nos times. No livro The Progress Principle, que escreveu junto com Steven Kramer, ela defende que a interação face a face é mais propícia para a criatividade, pois permite uma troca de ideias mais fluida e a possibilidade de construir sobre as sugestões dos outros em tempo real.

A serendipidade – aqueles momentos de inovação que ocorrem ao acaso, durante conversas informais –, por exemplo,  é um benefício inestimável dos encontros presenciais para a criação no novo. Nesse artigo, o CEO da Modal conta como uma conversa espontânea durante um evento offsite levou à implementação bem-sucedida de uma ideia que vinha sendo discutida há muito tempo.

“Com reuniões virtuais, sempre há um começo e um fim, e geralmente uma agenda. Quando você pode interagir com colegas durante um café, almoço ou até mesmo em um campo de mini-golfe, como fizemos, sem a estrutura formal de conversa que muitas vezes acompanha as reuniões online, você pode trazer seu “eu completo” para o papo”

Claro que, com a crescente preocupação sobre emissões de carbono e os demais impactos ambientais que um encontro presencial costuma envolver, há não só a necessidade de adotar uma estratégia de minimização desses impactos, mas também de garantir que o evento está de fato gerando valor significativo. Se quer ajuda nisso, chama a Agência Nuts e vamos trabalhar juntos!