Os dados decidem, mas as histórias sustentam
Escrito por
Rafael Nascimento de Carvalho | Content Manager
Estávamos no escritório de uma das maiores varejistas do Brasil com um par de fones e uma pergunta simples: “você topa ouvir alguém por três minutos inteiros?”. A fila de colaboradores que se formava não era para uma palestra, nem para um espaço instagramável, nem para ganhar um brinde. Era para ouvir uma história.

Quando desenhamos o Museu de Pessoas para projetos corporativos, focamos em uma arquitetura mínima exatamente para tornar a escuta máxima: ilhas de áudio com pequenas cápsulas de vídeo ou fotos, mas às vezes nem isso. A pessoa entra, escolhe um depoimento, e o resto é entre ela e a voz de alguém, seja um colega, cliente ou parceiro.
A primeira vez que criamos esse produto aqui na Agência Nuts foi para a Lojas Renner S.A., há alguns anos, para a convenção que reuniu 150 integrantes da alta liderança da empresa, trazendo relatos complexos da relação dos mais diversos stakeholders com a organização.

Conduzimos o projeto de cabo a rabo, desde a escolha dos personagens junto ao time de Gente a arquitetura do espaço, passando claro pelas entrevistas de profundidade, com gravação e edição dos depoimentos. Para chegarmos a depoimentos poderosos de cerca de 3 minutos, empreendemos mais de 1 hora de conversa com cada entrevistado.

Mas para que tudo isso? O que muda com um projeto desses?
A planilha ganha CPF. O funil de vendas ganha rosto. O Excel, claro, continua sendo o Excel com sua disciplina estatística; mas médias e medianas não abraçam ninguém, não tocam ninguém, não emocionam.
Na LRSA, o Museu de Pessoas ocupou todo o foyer. Montamos ilhas de escuta com fones e pequenas que funcionavam como “chaves” para cada história. Entre 3 a 6 minutos, o visitante escolhe um depoimento: clientes, por exemplo, contam não só como usam o produto (onde ajuda, onde falha e como entra ou não na rotina) mas também suas histórias de conexão com a marca. Teve até uma história de vestido de casamento comprado de última hora na Renner!
O recorte é realista: entram relatos positivos e negativos, e na edição nós não buscamos “provar um ponto” e sim trazer um retrato verdadeiro e pessoal.

Desde então, testamos variações dessa ativação com clientes que vão do setor financeiro ao agronegócio, sempre com bom engajamento. Via de regra, é uma ação que acontece nos intervalos de Convenções ou Summits, sem competir com o palco. Pelo contrário: ela prepara a equipe para discutir decisões com contexto recém-ouvido e vocabulário comum. Para além do evento, a instalação pode permanecer dias a fio no escritório, como um circuito de escuta contínua.

Claro que, para esse projeto, nós não inventamos a roda. Buscamos inspiração, entre outras fontes, no Empathy Museum (2015), criado por Roman Krznaric e dirigido por Clare Patey, com a instalação itinerante A Mile in My Shoes. Trata-se de uma “loja de sapatos” onde você literalmente caminha usando os sapatos de outra pessoa enquanto escuta a história dela. A obra já passou por vários países e temas (saúde, migração, água), sempre colhendo relatos locais e devolvendo humanidade na forma de experiência.
Neste ano, visitando o Kunsthaus, principal museu de Zurich, também me deparei com o layout de uma exposição que já nos fez repensar as possibilidades cenográficas do Museu de Pessoas. E assim o projeto vai evoluindo. A foto de lá, a propósito, é esta que abre o texto.

Eu, particularmente, amo ir a campo para encher o repertório: museus que visito, exposições, viagens… tudo isso volta para agência como matéria-prima. O Museu de Pessoas é um bom exemplo desse trânsito fértil entre arte e corporativo. No fim, é simples: aprendemos na arte para devolver em projeto. Se quer levar o Museu de Pessoas para sua organização, fale com a gente.