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Os dados decidem, mas as histórias sustentam

Escrito por
Rafael Nascimento de Carvalho | Content Manager

Estávamos no escritório de uma das maiores varejistas do Brasil com um par de fones e uma pergunta simples: “você topa ouvir alguém por três minutos inteiros?”. A fila de colaboradores que se formava não era para uma palestra, nem para um espaço instagramável, nem para ganhar um brinde. Era para ouvir uma história.

Mostra “A Future for the Past”, 2025, em cartaz no Kunsthaus, em Zurique | Foto de Franca Adrian

Quando desenhamos o Museu de Pessoas para projetos corporativos, focamos em uma arquitetura mínima exatamente para tornar a escuta máxima: ilhas de áudio com pequenas cápsulas de vídeo ou fotos, mas às vezes nem isso. A pessoa entra, escolhe um depoimento, e o resto é entre ela e a voz de alguém, seja um colega, cliente ou parceiro.

A primeira vez que criamos esse produto aqui na Agência Nuts foi para a Lojas Renner S.A., há alguns anos, para a convenção que reuniu 150 integrantes da alta liderança da empresa, trazendo relatos complexos da relação dos mais diversos stakeholders com a organização.

Museu de Pessoas, Convenção 2024 da Lojas Renner S.A. | Concepção e execução: Agência Nuts

Conduzimos o projeto de cabo a rabo, desde a escolha dos personagens junto ao time de Gente a arquitetura do espaço, passando claro pelas entrevistas de profundidade, com gravação e edição dos depoimentos. Para chegarmos a depoimentos poderosos de cerca de 3 minutos, empreendemos mais de 1 hora de conversa com cada entrevistado.

Museu de Pessoas, Convenção 2024 da Lojas Rennner S.A. | Concepção e execução: Agência Nuts

Mas para que tudo isso? O que muda com um projeto desses?

A planilha ganha CPF. O funil de vendas ganha rosto. O Excel, claro, continua sendo o Excel com sua disciplina estatística; mas médias e medianas não abraçam ninguém, não tocam ninguém, não emocionam.

Na LRSA, o Museu de Pessoas ocupou todo o foyer. Montamos ilhas de escuta com fones e pequenas que funcionavam como “chaves” para cada história. Entre 3 a 6 minutos, o visitante escolhe um depoimento: clientes, por exemplo, contam não só como usam o produto (onde ajuda, onde falha e como entra ou não na rotina) mas também suas histórias de conexão com a marca. Teve até uma história de vestido de casamento comprado de última hora na Renner!

O recorte é realista: entram relatos positivos e negativos, e na edição nós não buscamos “provar um ponto” e sim trazer um retrato verdadeiro e pessoal.

Desde então, testamos variações dessa ativação com clientes que vão do setor financeiro ao agronegócio, sempre com bom engajamento. Via de regra, é uma ação que acontece nos intervalos de Convenções ou Summits, sem competir com o palco. Pelo contrário: ela prepara a equipe para discutir decisões com contexto recém-ouvido e vocabulário comum. Para além do evento, a instalação pode permanecer dias a fio no escritório, como um circuito de escuta contínua.

Moodboard cenográfico para o Museu de Pessoas | Agência Nuts

Claro que, para esse projeto, nós não inventamos a roda. Buscamos inspiração, entre outras fontes, no Empathy Museum (2015), criado por Roman Krznaric e dirigido por Clare Patey, com a instalação itinerante A Mile in My Shoes. Trata-se de uma “loja de sapatos” onde você literalmente caminha usando os sapatos de outra pessoa enquanto escuta a história dela. A obra já passou por vários países e temas (saúde, migração, água), sempre colhendo relatos locais e devolvendo humanidade na forma de experiência.

Neste ano, visitando o Kunsthaus, principal museu de Zurich, também me deparei com o layout de uma exposição que já nos fez repensar as possibilidades cenográficas do Museu de Pessoas. E assim o projeto vai evoluindo. A foto de lá, a propósito, é esta que abre o texto.

Eu, particularmente, amo ir a campo para encher o repertório: museus que visito, exposições, viagens… tudo isso volta para agência como matéria-prima. O Museu de Pessoas é um bom exemplo desse trânsito fértil entre arte e corporativo. No fim, é simples: aprendemos na arte para devolver em projeto. Se quer levar o Museu de Pessoas para sua organização, fale com a gente.