Modelo P.E.R.M.A. no Design de Experiências: conexão, emoção e propósito
Escrito por
Leandro Duarte | Sócio da Nuts • Designer de Experiências • Mestre em Comunicação
Os fundamentos do bem-estar humano são insumo de experiências memoráveis
O design de experiências transita por dois universos fundamentais e complementares: um pragmático, concreto, focado em mercado, planejamento e restrições de budget, e outro profundamente subjetivo, abstrato, que mergulha nas vivências das pessoas e acessa memórias, provoca afetos e desperta emoções por meio dos sentidos.
No primeiro universo, a discussão é estratégica e técnica: traduzimos uma ideia, uma dor, um posicionamento, um claim, um gap, uma imagem de marca em vários tipos de experiências. E botamos a ideia de pé, avaliando alturas, distâncias, pesos, litros, KVAs, decibéis e ansi lumens. Agora, quando nos debruçamos sobre o segundo universo, a coisa muda de figura.
Compreender a dimensão subjetiva das experiências humanas é um desafio. É o maior desafio em design de experiências, pois é fácil cair num papo esotérico, sem qualquer critério objetivo, quando tentamos responder a perguntas como “O que torna uma experiência verdadeiramente memorável?”, “O que realmente gera felicidade e conexão?” e “Como projetar experiências que toquem a essência humana?”.
Felizmente, muita gente séria tem se dedicado a sistematizar respostas científicas para essas perguntas complexas. Martin Seligman, o autor em quem eu me apoio aqui, é um exemplo.
P.E.R.M.A.
No livro Flourish: A Visionary New Understanding of Happiness and Well-Being, Seligman apresenta o modelo P.E.R.M.A., um framework para compreender os elementos que promovem o bem-estar psicológico. Segundo ele, vivemos de forma mais plena quando experimentamos esses 5 estímulos:
- Emoções positivas (Positive emotions)
- Engajamento (Engagement)
- Relacionamentos (Relationships)
- Significado (Meaning)
- Realização (Accomplishment)
O modelo funciona como uma bússola para intervenções focadas no desenvolvimento humano e na promoção de uma vida melhor, de segurança, autoestima e conexão.
Exatamente tudo o que buscamos em design de experiências.
Emoções positivas

No design de experiências, criar condições que promovam emoções como alegria, gratidão e esperança nos permite estabelecer vínculos duradouros com as pessoas e entre elas. Emoções positivas estão ligadas a aspectos fundamentais do comportamento humano, como engajamento, fidelidade e compartilhamento. Tudo o que queremos.
Por isso, trabalhamos para identificar e incorporar elementos que despertem essas emoções ao longo da jornada do usuário.
Aqui, cabe uma ressalva: provocar tensão e estimular reflexões desafiadoras tem o seu valor (e como tem!). Um mundo artificial, cheio de felicidade forçada (ou tóxica), não gera envolvimento legítimo.
O importante é que as emoções sejam genuínas e, claro, conectadas com a realidade do público.
Engajamento

No mundo do hiperestímulo, capturar a atenção das pessoas é o nosso maior desafio. Falei disso no meu texto anterior, sobre gamificação.
Uma experiência realmente envolvente equilibra desafio e habilidade — quem não conhece o “estado de flow”? —, proporcionando um convite constante para o crescimento pessoal. Nessa perspectiva, cada interação vira uma oportunidade de aprendizado, conexão, autorrealização ou apenas entretenimento de boa qualidade.
Relacionamentos

Design de experiências não é apenas sobre indivíduos: é sobre grupos, times, organizações e comunidades também. Recursos colaborativos e oportunidades de interação são formas de fortalecer relações entre as pessoas.
Ao cultivar a vontade de conexão, estimulamos o senso de pertencimento, que contribui para o bem-estar geral dos indivíduos. Experiências que incentivam relacionamentos significativos tendem a gerar mais tempo de interação e engajamento, o que, para nós, significa ter o convidado, usuário ou cliente mais tempo em contato com a mensagem da nossa marca.
Significado

O significado está no centro da experiência, pois é o que dá sentido a ela, cria novas realidades, forja futuros desejados.
Conectar as pessoas a algo maior do que suas próprias necessidades imediatas faz de nós criadores de propósito.
Quando uma experiência permite que as pessoas visualizem seu papel em um contexto mais amplo — seja uma comunidade, um movimento, uma causa, um objetivo compartilhado —, ela ativa dimensões psicológicas profundas e potentes de descoberta, pertencimento e completude.
Realização

As pessoas são movidas por conquistas — cada uma em sua própria jornada de crescimento. Uma boa experiência deve oferecer oportunidades para desenvolvimento de habilidades, superação de desafios e alcance de metas.
Experiências que promovem realização pessoal geram senso de competência, autoestima e satisfação, impulsionando a motivação, a proatividade, a disposição para assumir novos desafios.
O design de experiências deve ir além de indicadores puramente quantitativos. Nosso desafio fundamental é criar soluções que:
- Respeitem a complexidade humana
- Considerem aspectos tanto da dimensão racional quando da dimensão sensível
- Promovam bem-estar integral
- Integrem reflexão, emoção, descoberta e mudança
Precisamos, mais do que nunca, entender profundamente de negócios, mas também de pessoas; de estratégia, e também de psicologia; de finanças e de sinestesia; de produção e de emoção. Temos que interpretar narrativas, compreender contextos e ter a coragem de antever necessidades ainda não expressas com clareza.
Mais do que planejar ativações e eventos, promover produtos e serviços, e projetar interfaces, estamos criando ecossistemas de experiências que podem nutrir, inspirar, empoderar e transformar pessoas, comunidades e organizações.
Nossa responsabilidade criativa e ética é monumental: somos criadores de possibilidades humanas!