Transformando eventos corporativos com os princípios da Festivalização
Escrito por
Rafael Nascimento de Carvalho | Content Manager
Retornei de férias há alguns dias, e ainda estou no processo de sistematizar e internalizar os insights das leituras que consegui avançar nessas semanas off. Para mim, não tem melhor forma de fazer isso do que dar uma respirada, revisitar meus grifos e tentar organizar esse conhecimento de forma que ele possa ser compartilhado com outras pessoas – ao tentar explicar, eu mesmo acabo entendendo melhor.
Então, é isso que vou fazer aqui com o livro Festivalising! – Theatrical Events, Politics and Culture, que surgiu de um projeto colaborativo do International Federation for Theatre Research, que investigou como os festivais modernos transformaram o que eram eventos culturais tradicionais em experiências imersivas complexas, detalhando os elementos teatrais e narrativos que ajudam a moldar a experiência desde a curadoria de temas até a criação de identidades coletivas.
E temos lições importantes aí para os eventos corporativos! Isso mesmo, o mundo das experiências corporativas tem muito o que aprender com o Festival de Ópera de Verona, o Burning Man, o Carnaval do Rio, e até mesmo com o Klein Karoo National Arts, um festival de arte popular na África do Sul.
Ao mergulhar nessa ideia de “festivalising”, foi ficando cada vez mais claro para mim como esse mesmo processo pode ser aplicado aos eventos corporativos para transformá-los em experiências mais marcantes, mais culturais, mais transformadoras – algo que temos buscado fazer de forma criativa e original aqui na Agência Nuts.
Assim como o teatro é muito mais que o encontro entre artista e público (tem muito mais nuances em jogo!), o mesmo ocorre com eventos corporativos… não se trata apenas de transmitir informações ou realizar uma apresentação, mas de criar uma atmosfera que dialogue com as emoções, a cultura e o comportamento de quem está ali.
Isso vai além de pensar em um show no fim do evento, ou uma performance na abertura da plenária – embora isso também faça sentido. Tem como ir além, e jajá vou dar alguns exemplos para deixar mais tangível do que estamos falando aqui.
Primeiro, temos que entender que no livro, um festival é descrito como “um evento composto por vários eventos únicos, ou seja, um meta-evento”. Essa é uma ideia que nos encoraja a repensar toda a estrutura do evento, promovendo momentos que, individualmente, encantam e, coletivamente, criam uma experiência integrada e inesquecível.
Com esse conceito de “meta-evento” em mente, imagine, por exemplo, uma convenção de vendas em que, ao invés de palestras repetitivas, os participantes são convidados a percorrer diferentes “estações” que contam a trajetória da empresa por meio de exposições interativas, vídeos imersivos e oficinas. É uma abordagem que vai tornar o evento mais dinâmico e fazer com que os participantes se sintam parte de uma narrativa coletiva – uma espécie de “meta-evento”, como o livro coloca, onde cada ação se conecta para criar uma experiência única.
E para “festivalisar” de verdade, toda essa energia criativa também deve ser aplicada na escolha da comunicação visual, dos elementos cenográficos, trilha sonora, tudo coerente com essa imersão que queremos proporcionar.
Exercício de Pensamento Análogo
Um exercício criativo interessante é, por exemplo, pensar em um festival que tenha sido uma experiência incrível para você e se fazer algumas provocações. Vou tomar como exemplo o Burning Man, um festival que você já deve ter ouvido falar, e que o grande trunfo é transformar um espaço inóspito em um ambiente de criatividade e participação ativa, onde as barreiras entre artistas e público desaparecem, e todos mergulham na performance. Nesse exercício, eu me faria as seguintes perguntas:
1. Que elementos o Burning Man pode emprestar para meu próximo evento?
2. O que o Burning Man ensina sobre como romper com o formato tradicional de eventos e despertar a criatividade e o engajamento genuíno dos participantes?
3. O que o Burning Man ensina sobre como criar espaços colaborativos e interativos, onde os próprios participantes contribuem com a experiência?
Poderíamos tomar também como exemplo o Klein Karoo National Arts Festival, que é analisado pelo dramaturgo Temple Hauptfleisch no livro. Nesse festival a identidade africâner ganha vida através do teatro, da música e das artes visuais, transformando a pequena cidade de Oudtshoorn em um epicentro de criatividade e pertencimento. Ele nasceu como um espaço de resistência e afirmação cultural, mas acerta muito ao misturar tradição e inovação, passado e futuro, criando experiências imersivas que conectam de verdade artistas e público. Nesse exercício, eu me faria as seguintes perguntas:
1. Que elementos o Klein Karoo pode emprestar para meu próximo evento?
2. O que o Klein Karoo me ensina sobre reforçar a identidade cultural do meu time ou da região em que minha empresa se encontra?
3. O que o Klein Karoo me ensina sobre proporcionar atividades que valorizem a história do meu grupo, nossas raízes e tradições?
A verdade é que esse livro desencadeou em mim uma série de reflexões e que eu ainda pretendo explorar em outros textos. No próximo, vou mergulhar de fato em quais são esses princípios da Festivalização de forma mais direta, com uma lista prática do que pensar para “festivalizar” seu próximo evento, e também em uma análise mais aprofundada de aprendizados do icônico Burning Man para o nosso mundo de experiências corporativas.