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Usando estilos de aprendizagem para criar apresentações que engajam o público

Escrito por
Rafael Nascimento de Carvalho | Content Manager

Parte importante do trabalho que realizamos na Agência Nuts inclui ajudar nossos clientes a elaborarem uma estratégia de conteúdo eficaz para seus Summits e Convenções – e isso envolve, quase sempre, ajudar o time executivo a organizar suas apresentações de área, compartilhando resultados, desafios e mensagens-chave de forma que engaje a audiência.

Acontece que engajar a audiência, de fato, não é um desafio dos mais simples. Imagine que você está no palco, compartilhando com orgulho as últimas conquistas da sua diretoria, e ao fim da sua fala… cri cri. Silêncio. Algumas palmas protocolares e nada mais. Esse é um medo recorrente dos executivos com quem conversei nos últimos anos.

Isso, claro, pode ser uma consequência direta de um problema generalizado de “desengajamento” que muitas organizações têm enfrentado – num contexto em que 33% dos colaboradores não estão engajados com seus trabalhos,como esperar que um PowerPoint cause comoção geral? Carisma, estilo de apresentação, duração do evento… todos esses são fatores que também entram na equação – mas são muito menos importantes do que costumam levar crédito.

A seguir, vou explorar um pouco das dicas que tenho compartilhado com executivos e executivas ao longo dos últimos anos ao ajudá-los a preparar suas apresentações em Convenções e Summits.

Não se esqueça da emoção

É importante ter em mente que emoções afetam a atenção e o aprendizado. Em “Rápido e Devagar”, por exemplo, Daniel Kahneman argumenta que a emoção é o gatilho mais eficiente para armazenar conteúdos em nossa memória de longo prazo. É aquela velha história de que as pessoas podem se esquecer do que você disse a elas, mas nunca de como você fez elas se sentirem.

O engajamento vai ter muito mais chances de ser processado, armazenado e lembrado se você utilizar SENTIDO e RELEVÂNCIA no seu conteúdo, além de recursos que intencionalmente acendem a EMOÇÃO em sua audiência.

Quando analisamos se um conteúdo faz sentido, estamos buscando entender se tem significado para o público —e definimos significado como algo que se encaixa nas experiências passadas de um aprendiz, algo que ele é capaz de entender e se relacionar. Quando analisamos se um conteúdo é relevante, estamos buscando entender o quanto o tema desperta o interesse do interlocutor — ou seja, o quanto o conteúdo é não só necessário, mas também desejado pelo público. Significado, relevância e emoção são três elementos que não podem te escapar na hora de construir o conteúdo da sua apresentação. Ao mesmo tempo, o formato e a própria narrativa da apresentação também vão ter grande impacto no engajamento do público.

Embora o design de experiências abra possibilidades de explorarmos todos os cinco sentidos ao darmos vida a esses elementos, é importante entender que nem todos na audiência usam os sentidos da mesma maneira – todo grupo relativamente grande é composto por diferentes perfis de “aprendizes”, e cabe a você criar um conteúdo que seja capaz de se conectar a esse público variado.

Leve em conta os diferentes tipos de aprendizagem

Ao longo das últimas décadas, pesquisadores de diversos campos elaboraram e aprimoraram diferentes modelos que buscavam dar conta dos diversos estilos de aprendizagem que encontramos nas escolas, nas universidades, nas organizações, e na sociedade de maneira geral.

Entender e se aprofundar nesses diversos modelos é algo que agrega valor não só para quem quer fazer apresentações mais eficazes, mas também para qualquer líder que deseja trazer abordagens mais diversas para o desenvolvimento do seu time.

Analíticos, Criativos ou Práticos?

Quando estamos falando de criação de conteúdo para eventos corporativos, um modelo que gosto de abordar é do psicólogo Robert Sternberg: a Teoria Triárquica da Inteligência.

Embora tenha sido proposta ainda na década de 1980, continua sendo uma referência importante na psicologia e na educação, mesmo que algumas de suas ideias tenham sido criticadas ou complementadas por pesquisas subsequentes. Ela estudou três tipos de inteligência, que também levam a três estilos distintos de aprendizagem e assimilação de conteúdo:

Aprendizes analíticos: Isso é relevante para mim?”

Avaliam e criticam a informação à medida que a recebem e julgam se devem aceitá-la ou rejeitá-la. Vão ter interesse especial por apresentações que contém dados concretos, estatísticas e evidências que suportem os pontos principais da apresentação. Use gráficos, tabelas e infográficos para visualizar informações, e provoque a audiência com perguntas críticas e desafios intelectuais, incentivando-os a pensar analiticamente sobre o conteúdo apresentado.

Se olharmos para a programação do evento como um todo, para envolver esse tipo de participante é válido incorporar atividades que exijam pensamento crítico e análise detalhada, como estudos de caso, debates e resolução de problemas complexos, assim como testes, quizzes e outras ferramentas de avaliação.

Aprendizes criativos: “Como vou usar isso?”

Envolve a habilidade de criar, inventar e inovar. São participantes que transformam a informação em ideias e inspiração para soluções atuais ou futuras.

Para engajá-los, use histórias envolventes e analogias criativas para ilustrar conceitos, tornando o conteúdo mais memorável e inspirador, e também utilize elementos visuais criativos, como vídeos, animações e imagens impactantes, para estimular a imaginação e a criatividade dos participantes.

Esse perfil também vai ser especialmente engajado por sessões de brainstorming que buscam a geração de novas ideias e soluções inovadoras, assim como dinâmicas lúdicas de co-criação (desenvolvimento de protótipos, criação de campanhas de marketing fictícias, etc.).

Aprendizes práticos: “Eu sei como vou usar isso.”

Aceitam a informação como conteúdo que usarão e aplicarão em contextos reais e adaptativos. Para se conectar melhor com esse público, busque trazer exemplos práticos e aplicáveis do conteúdo, mostrando como ele pode ser utilizado no dia a dia profissional dos participantes. Realize demonstrações ao vivo ou simulações que permitam aos participantes verem o conteúdo em ação, e ofereça ferramentas, checklists e recursos práticos que os participantes possam levar consigo e aplicar imediatamente após a Convenção.

Esse perfil também vai ser especialmente engajados por dinâmicas de “Aprendizagem Baseada em Projetos”, como business games e outras simulações de cenários empresariais em que podem praticar a tomada de decisões em um ambiente controlado. Da mesma forma, vão se interessar por visitas a empresas, startups ou organizações inovadoras, onde podem ver em primeira mão aplicações práticas das teorias abordadas na Convenção.

Conhecer o perfil do seu público é fundamental. Logo, se você sabe que está lidando com uma equipe de perfil mais analítico, busque estruturar a sua apresentação de forma a se conectar com essa audiência.

Ainda assim, tenha em mente qualquer grupo grande de pessoas – como os que costumamos encontrar em eventos corporativos – será provavelmente heterogêneo em relação aos estilos de aprendizagem. Assim, minha dica é que você organize sua apresentação de forma que inclua elementos para todos os tipos de aprendizes. Você pode, por exemplo, começar com uma introdução baseada em dados para atrair os aprendizes analíticos, seguir com histórias e analogias para engajar os criativos, e terminar com exemplos de aplicabilidade e ferramentas para os práticos.

Visuais, Auditivos ou Cinestésicos?

Duncan Wardle, ex-vice-presidente de inovação e criatividade da The Walt Disney, compartilhou recentemente um artigo na Harvard Business Review com as estratégias que aprendeu na Disney para fazer um pitch que se conecte com os diversos estilos de aprendizagem. Ele usou um modelo que divide os tipos de aprendizes entre VISUAIS (aprendem melhor através da visão), SONOROS (se conectam melhor com informações apresentadas de forma verbal e sonora) e CINESTÉSICOS (precisam interagir fisicamente com o conteúdo para assimilá-lo melhor).

Ele traz dicas que também podem ser bastante úteis na hora de planejar a sua apresentação.

Para Aprendizes Visuais:

  • Organize sua apresentação no formato de jornada, estruturando seu conteúdo como um storyboard e guiando o público através de uma narrativa visual clara e organizada
  • Inclua imagens impactantes e diagramas que ilustrem seus pontos principais
  • Use vídeos explicativos e animações para tornar suas ideias mais tangíveis

Para Aprendizes Sonoros:

  • Comece sua apresentação com uma história cativante, uma narrativa que se relacione com sua ideia
  • Use variedade de tons e ritmos na sua fala, fazendo pausas estratégicas para enfatizar pontos chave
  • Use vídeos ou até mesmo músicas para criar uma atmosfera sonora que reforce sua mensagem

Para Aprendizes Sinestésicos:

  • Exemplifique suas ideias de forma concreta e palpável
  • Quando fizer sentido, leve protótipos, modelos interativos ou materiais para o público tocar
  • Desenvolva simulações ou atividades que envolvam fisicamente os aprendizes

Aqui, vale a mesma lógica do bloco anterior: por que se contentar com uma apresentação padrão quando você pode engajar todos os tipos de aprendizes na sala? Ao incorporar elementos visuais, auditivos e cinestésicos, você garante que nenhuma ideia passe despercebida, gerando um entendimento vívido e uma experiência memorável para os membros da equipe.

Sua apresentação pode fazer mais do que comunicar ideias… Pode torná-las inesquecíveis, engajando todos os sentidos e estilos de aprendizagem.